Junho de 2013 foi o ovo da serpente?, por Pablo Ortellado/Folha de São Paulo
Ao aderir ao complô para assassinar Júlio César e salvar a república romana, Brutus pondera o seguinte: “A luta não diz respeito ao que ele mostra ser agora, mas posso argumentar: sua essência, dilatada, há de crescer a tais e tais extremidades; e devo então pensar que é o ovo da serpente: ao ser chocado, há de tornar-se peçonhento, e é preciso matá-lo ainda na casca ”. (Tradução de José Francisco Botelho para a tragédia de William Shakespeare.)
Desde que o cineasta Ingmar Bergman usou a passagem de Shakespeare para se referir à ascensão do nazismo, o tema do ovo da serpente que precisa ser exterminado, ainda na casca, antes de se tornar peçonhento, se tornou lugar-comum da retórica antifascista. No Brasil, tem sido exaustivamente mobilizado por setores da esquerda para se referir a uma sequência causal imaginária que liga os protestos de junho de 2013 às manifestações anticorrupção; essas, por sua vez, ao impeachment de Dilma Rousseff, à prisão de Lula e à eleição de Jair Bolsonaro. O ovo da serpente que teria sido necessário exterminar são os milhões de jovens que saíram às ruas pedindo direitos sociais e o fim da corrupção em junho de 2013.
Essa alegada sequência causal confunde contexto com causa e faz uma conexão amalucada, completamente desprovida de evidências, insinuando que os futuros eleitores de Bolsonaro animavam os protestos de junho de 2013.
Os protestos de junho de 2013, sobretudo os da segunda quinzena, foram bastante estudados. Sabemos que os jovens que estavam nas ruas não se identificavam com a direita, nem tinham qualquer preferência partidária. A principal pauta reivindicada nos protestos eram a redução das tarifas de transporte e a melhoria dos serviços públicos de saúde e educação, uma pauta que não pode ser considerada de direita, muito menos de extrema direita.
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