NÓS, OS INCONVENIENTES

Houve um tempo no nosso Brasil que os aeroportos tinham apenas salas das autoridades. E por ali passavam pessoas de destaque cujos cargos exigiam alguma privacidade do público em geral que também transitava pelas áreas de embarque e desembarque.

Eram espaços perfeitamente de acordo com todos os grandes aeroportos do mundo. Mas tínhamos de ser diferentes pela quantidade de autoridades brasileiras que exigem um tratamento diferenciado em nossos aeroportos. O Tribunal de Contas da União (TCU) acaba de receber uma representação do Ministério Público Federal (MPF) pedindo a suspensão temporária de um contrato firmado pelo Tribunal Superior do Trabalho (TST) para a construção de uma sala VIP para 27 ministros da corte no aeroporto de Brasília.

O projeto segue o exemplo do STF e do STJ que já possuem salas VIP exclusivas, desde 2017, após episódios de exposição pública e preocupações com segurança. O TST argumentou a necessidade de uma sala VIP exclusiva como medida de segurança para resguardar seus ministros e evitar “aproximação de pessoas inconvenientes”.

Salas privadas para ministros do STF até se compreende dado o protagonismo midiático dos 11 togados de nossa corte maior, mas quem poderia hostilizar ministros do TST que sequer são celebridades e a maioria é desconhecida dos “inconvenientes”?

Quem sabe o TCU aceita a sugestão do MPF e suspende a obra da sala VIP do TST evitando um desgaste desnecessário à imagem da instituição que cuida da nossa legislação trabalhista?

Na verdade, faltam “inconvenientes e indivíduos mal-intencionados” para incomodar suas excelências do TST. Eles estão ocupados, no momento, com o STF.

A obra está orçada em R$ 1,5 milhão para ser concluída em dois anos. Estão previstos pisos de granito, banheiros privativos (serão 27?) e acompanhamento pessoal de funcionários do aeroporto. Houve dispensa de licitação.

Na Suécia não existem privilégios como os do Brasil. Lá, o presidente da Suprema Corte vai para o trabalho de metrô e carro oficial só é disponível para o primeiro-ministro quando está em missão oficial.