Análise: Acordo EUA-União Européia isola o Brasil que servirá de “exemplo” para os Brics, por André Perfeito

Foi anunciado há pouco o acordo sobre as tarifas entre EUA e União Europeia. Pelo que foi publicizado as tarifas caíram para 15% e adicionalmente os europeus não irão taxas os EUA. Fora as tarifas em si a União Europeia se compromete em comprar USD 750 bilhões de energia dos EUA além de investir USD 600 bilhões no país.

Os europeus já importam muita energia dos EUA, logo não saberia avaliar se este patamar de USD 750 bilhões extrapolaria muito o patamar atual. Adicionalmente os investimentos de USD 600 bilhões não há detalhes, logo pode ser apenas um swap de títulos que europeus já possuem dos EUA para ativos reais por lá. (Acredito que deveríamos fazer o mesmo).

Seja como for o Brasil está definitivamente isolado e as tarifas ganham ares de sanção que buscam restabelecer a América como quintal dos EUA. Seremos taxados na perspectiva que os EUA não permitirão que o Brasil se alie de maneira individual a blocos ou projetos que não sejam do interesse de Washington e isso cria uma novidade politica que há muito tempo não se via. A revista The Economist apontou corretamente que o que ocorre com o Brasil pode ser só comparado ao período da Guerra Fria.

Temos agora a seguinte situação: as tarifas virão vir e virão com força. Dito isso temos duas possibilidades.

1-) o Real se deprecia fortemente contra o Dólar o que pode em parte atenuar as tarifas, mas com efeito nefasto para o resto da economia através de pressões inflacionárias difusas, ou,

2-) o Dólar perde força na perspectiva que o objetivo final de Trump é enfraquecer o dólar (basta imaginar que se UE e Japão usarem suas reservas para financiar os investimentos produtivos nos EUA isso implica uma venda de USD 1.1 trilhão de títulos). Esta hipótese me parece hoje mais frágil, provavelmente o dólar irá ganhar contra o real.

Seja como for acho que Brasília tem pouco a oferecer para aplacar as demandas de Trump. Há, no entanto, dois recursos que podem ser usados: i-) a exploração de terras raras no Brasil, e ii-) o compromisso do Brasil investir nos EUA.

O Brasil terá que articular uma reação através da diplomacia não apenas com os BRICS, mas muito com Japão e Europa para contornar esse problema.

Até segunda ordem temos que ter em mente que os EUA isolaram o Brasil da sua economia. Pelo menos nas exportações.