Ibsen Pinheiro mora no meu coração
Sempre que eu lembro do Ibsen me dá vontade deixar algumas lágrimas correrem no meu rosto.
Quando chegamos à idade da experiência, isso tem me acontecido com muita facilidade. E com o Ibsen, então, eu me emociono facilmente pelo que fizeram com ele. Conheço, apenas com menos intensidade que o Márcio, a trajetória do Ibsen por estar na crônica e na reportagem política desde 1969 e ter nele uma grande referência, como jornalista talentoso e dono de um texto admirável.
Mais tarde, como político, levou para os plenários e tribunas por onde passou a sua cultura na área do Direito e sua verve de homem culto que sabia construir frases antológicas exercitadas na imprensa. A ignomínia dos políticos safados e medíocres é a operadora da máquina de moer reputações de pessoas decentes. Com Ibsen foi o que aconteceu no caso dos “anões do orçamento” – um apelido imposto por algum jornalista safado e cliente da tal máquina de moer reputações.
Ibsen suportou por algum tempo, em silêncio, tudo o que de maldade um ser humano pode fazer a outro no terreno da calúnia. Mas acho que ele sofreu mais quando os próprios companheiros de seu partido lhe faziam “olho branco”. Sequer lhe dirigiam um “oi, Ibsen”. Meu Deus, como isso devia doer no seu íntimo!
No auge do noticiário canalha contra ele, Ibsen nunca deixou de fazer a rotina do seu dia a dia e sempre que eu o encontrava lhe dava um abraço e jogávamos conversa fora. Muitas vezes fui cobrado por não falar na rádio, na televisão ou mesmo escrever algumas palavras sobre o caso. Jamais tripudiei sobre indefesos e no caso do Ibsen minha amizade com ele me permitia não tratar do caso, mesmo que me chamassem de “jornalista que protege amigos”.
Na verdade, eu estava me protegendo porque meu feeling me alertava que Ibsen havia caído numa armadilha parlamentar e jornalística e que não muito longe daquela lama artificial, a farsa seria desmontada.
A Veja, a TV Globo e outros órgãos de imprensa se encarregaram de destruir a vida de Ibsen. Ambas também destruíram com reportagens escandalosas a Escola de Base, em São Paulo (vai no Google). E tudo no ano de 1994. Mas a suprema ironia aconteceu na sessão plenária da Câmara quando Ibsen foi à tribuna para se defender da cassação. Seu discurso, como todos que fazia, foi histórico na vida do Parlamento brasileiro recebendo muitos aplausos. Mas cassação saiu no final, depois de uma sessão que levou nove horas. Na defesa, em plenário, Ibsen culpou acertadamente a imprensa “que ao contrario da Saúde e dos livros no Brasil, tinha isenção de impostos, numa convivência espúria com as verbas públicas”.
Mudou alguma coisa de lá para cá?
Desculpem o chavão, mas Ibsen mora no meu coração.
Comentários