O PT bolsonarista, por Miguel de Almeida/O Globo
Mal se avista 2024, e parte do PT, na dúvida ou muito pelo contrário, já se posiciona no pós-Lula. Nas duas principais capitais, Rio e São Paulo, o partido ameaça romper acordos ou promessas firmados no ano passado. Acostumado a jogar parado, o presidente, se agora toma bolas nas costas de Arthur Lira, corre também o risco de perder em casa.
Muito da indisciplina petista se explica com o diagnóstico verbalizado, à semelhança de um deboche, pelo próprio Lira: Lula será candidato à reeleição? Ao deixar em aberto o cenário — algo que não ocorreu desde que ela brotou pelas mãos de FH —, o presidente abre um flanco, baixa a guarda e se coloca como refém de seus algozes — a começar pela turma de copa e cozinha. Existem motivos para pulga atrás da orelha, de parte a parte, dado que até hoje se verifica um casamento de conveniência entre Lula e setores de seu partido. Ele, um tipo de centro, não de esquerda, como já reconheceu anos atrás; mas adequado à franja esquerda pela origem operária; e a política ama qualquer simbologia. Até que se esgarce no tempo — Lula era torneiro mecânico, função há muito desaparecida, mas aquele modelo de indústria ultrapassada luta pela sobrevivência no mundo digital. Antes de qualquer brinde, bom lembrar: no Brasil, o passado demora a passar.
Ainda hoje é Lula a maior referência eleitoral do partido, embora seus truques políticos não escondam mais surpresas. Maldosamente, Lira assopra que ele está lento. Tem razão. Perto de José Dirceu, o ministro Rui Costa é um operador de grêmio estudantil. E, se antes podia contar com José Genoíno, um hábil conversador, agora vemos o irmão dele, José Guimarães, líder do PT, mastigado e cuspido pelo Centrão; não necessariamente nesta ordem. Vale anotar que alguns deputados petistas votaram a favor da proposta de lei assinada pela filha de Eduardo Cunha, aquela que quer criar ainda mais benefícios para os políticos. Como se não bastassem as dezenas de assessores, verbas secretas etc. Não é de agora que petistas e bolsonaristas integram o mesmo coro.
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