Lula tenta paz com o agro, cada vez mais forte na economia e no Congresso, por Laísa Dall’Agnol e Victoria Bechara/Veja

 

 

Oito dias após ter tomado posse, Luiz Inácio Lula da Silva enfrentava o seu momento mais delicado  no terceiro mandato, quando uma turba com inspiração golpista invadiu e depredou as sedes dos Três Poderes em Brasília. De Araraquara, no interior paulista, onde estava, anunciou a reação do governo, com um decreto de intervenção na segurança pública da capital federal, e passou a enumerar aqueles que considerava responsáveis pela barbárie. Após indicações genéricas como “vândalos”, “nazistas”, “fascistas” e “antidemocráticos”, vieram acusações mais direcionadas. “Garimpeiros, madeireiros ilegais. Essa gente estava lá. O agronegócio maldoso, aquele agronegócio que quer utilizar agrotóxicos sem nenhum respeito à saúde humana, provavelmente também estava lá”, disse, sem apresentar nenhuma prova do que falava. A declaração não surpreendeu. Na  campanha, ele já havia utilizado as expressões “fascistas” e “direitistas” para se referir ao setor, que deu apoio em massa a Jair Bolsonaro. Vitorioso, voltou à carga. “Não me preocupo quando dizem que o agro não gosta do Lula. Não quero que gostem, mas que me respeitem”, disse em novembro.

Cinco meses depois, Lula dá os primeiros sinais de que pode, finalmente, abandonar a cantilena belicista para buscar uma convivência mais saudável com o setor. Na terça-feira 6, em Luís Eduardo Magalhães, na Bahia Farm Show, a maior feira agrícola do Nordeste, ele anunciou 7,6 bilhões de reais para o financiamento da safra, lembrou dos bons tempos vividos pela agropecuária no seu primeiro mandato e apelou à conciliação, ao pedir que os brasileiros “joguem o ódio na lata de lixo”. O episódio contrastou com o clima de outra feira recente do setor, quando o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, cancelou a ida à Agrishow de Ribeirão Preto, em São Paulo, devido à presença de Bolsonaro, que acabaria se tornando a estrela do negócio. Enfurecido com o episódio, Lula chamou os organizadores de “povo mau-caráter, fascista e negacionista”. Não vai ser fácil apagar a memória desses ataques desnecessários. Na Bahia Farm Show, apesar de aplaudido pelos participantes do evento, com acesso controlado, Lula foi alvo de vaias e gritos de “ladrão” do lado de fora.

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