La Camorra: uma boate especialmente construída na avenida Goethe, por Marcello Campos/Jornal do Comércio
Dentre as quase mil casas noturnas que já movimentaram Porto Alegre com seus jogos de luz e penumbra, mais de 99% foram instaladas em alguma construção pré-existente, bastando para isso reformas, adaptações e improvisos. Residência, loja, garagem, depósito, galpão, cineteatro. Até um apartamento e a fuselagem de um avião já serviram a tal propósito. Sem contar, por óbvio, as que sucederam negócio similar em determinado endereço. Foram, portanto, pouquíssimos os imóveis especialmente erguidos para empreendimentos do ramo – afinal, há que se ter bala-na-agulha para tamanho arrojo em uma das atividades mais sujeitas a riscos e incertezas.
Que o diga José Augusto Faillace Krause. Em 20 de outubro de 1993, o empresário entrou de vez no “hall da fama” de cidade com a inauguração da boate e restaurante La Camorra, ocupando dois dos cinco andares de um prédio feito sob encomenda no número 89 da avenida Goethe (bairro Rio Branco, quase no Moinhos de Vento), cujos saudosos bares e danceterias permanecem na memória coletiva da gurizada que já carimbou a comanda dos 40 anos. Anonimato. Kripton. 600. Hook. Arubar. Tropical. Malibu/Manara. Rodeo Drive. Em ruas vizinhas: Sgt. Peppers, Alambique’s, Trivial, Mika & Holmes, Barong. Vollare, Press, Venezza.
Quem diria? Ali entrava em seu auge uma carreira iniciada aos 15 anos (e cabelo comprido a inspirar o apelido de “Ovelha”, que o acompanha desde então) com o fornecimento de som e decoração para festas de veraneio na Sociedade Amigos de Capão da Canoa (Sacc). Criado no trecho da avenida Venâncio Aires pertencente à Cidade Baixa, o rapazote teve seu interesse pela atividade noturna impulsionado pela realização de eventos na boate Macumba, da rua José do Patrocínio (chegou a propor sociedade, recusada pelo dono), além da experiência em 1982-83 como lavador de pratos e entregador de pizzaria em San Francisco (EUA).
No retorno a Porto Alegre, aplicou as economias na abertura de seu primeiro negócio, o Tom Marrom (1983-1987), um bar com música ao vivo em frente ao Instituto Goethe, no Moinhos de Vento. Na mesma década, seria sócio dos antológicos Bogart (1986-1990) e Bere & Ballare (1987-1993), antes de fundar o Roseplace (1990-2012) e, por fim, o La Camorra. “Quando o terreno foi comprado e ali demolido um antigo sobrado, em 1991, ainda não havia todo esse movimento boêmio na Goethe, mas eu queria algo diferente e próximo do Roseplace (a 850 metros dali, na rua 24 de Outubro)”, contextualiza Krause, 66 anos.
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