Os votos da primeira-dama não estão nas urnas, por Eduardo Affonso/O Globo
O que você acharia se a mulher do médico entrasse na sala de cirurgia para opinar sobre procedimentos, sedação, sutura? Se o companheiro da dentista aparecesse para dar palpite sobre ser melhor tratar o canal ou extrair o dente logo de uma vez? Se o marido do engenheiro se manifestasse sobre a posição dos pilares, porque ficou encantado com o “conceito aberto” num programa de televisão? Se a namorada do piloto resolvesse sugerir ajustes no plano de voo ou no serviço de bordo?
Pois é. Mas aqui estamos nós, discutindo as interferências da atual primeira-dama na taxação de importações e na atuação do Gabinete de Segurança Institucional — sem saber até que ponto as críticas são fruto de nosso machismo estrutural.
Já se foi o tempo em que as digníssimas esposas de presidentes, governadores e prefeitos estavam limitadas a fazer presença VIP nas cerimônias oficiais e a participar de atividades filantrópicas. Mudou o papel da mulher na sociedade, mas o das primeiras-damas não foi reescrito. Até porque se trata de uma espécie singular de função honorífica. Assim como mesários e jurados, primeiras-damas vêm com prazo de validade, não têm vínculo empregatício nem recebem remuneração. Essa não é uma função (mas um status) e tampouco honorifica (não configura homenagem às suas notórias capacidades profissionais).
Leia mais em O Globo
Comentários