“O fascista é o alegado antifascista que trata de fascista quem não é”, por Mario Sabino/Metrópoles
Sou neto de um refugiado do fascismo e fico abismado com a facilidade com a qual certos brasileiros chamam adversários políticos de “fascistas”. Mas fazer o quê? Muitos não sabem nem mesmo escrever corretamente a palavra, imagine saber o conceito. Só poderiam ter mais respeito pela memória de quem teve a vida destruída pelo fascismo, porque jamais ocorreu nada no Brasil redemocratizado — nada, absolutamente nada — que se compare ao terror fascista. O 8 de janeiro? Foi um ato terrorista grave e abilolado. Não foi, porém, a Marcha sobre Roma.
Outro dia, um político de língua muito solta (há algum que não a tenha neste momento?) vangloriou-se no Twitter de “duas enormes lutas da minha vida política: contra o coronavírus e contra o nazifascismo”. O sujeito nasceu em 1968. Não tem idade nem mesmo para ter lutado contra a ditadura militar, veja você. Pode?
Não pode. Quem combateu o nazifascismo foram os pracinhas da Força Expedicionária Brasileira, na Segunda Guerra Mundial, depois que o ditador Getúlio Vargas, admirador de Benito Mussolini, viu-se obrigado a virar casaca e apoiar os Aliados. O curioso é que Getúlio Vargas se tornaria ícone da esquerda brasileira, espectro ideológico do qual o autor do tuíte faz parte. Ou talvez não seja tão curioso.
Há gradações no autoritarismo, e o fascismo, assim como o nazismo e o comunismo, é um totalitarismo. Em regimes totalitários, na qual o autoritarismo é elevado à enésima potência, não existem partidos de oposição, não existe Judiciário nem sequer com aparência de independente, não existe nenhuma liberdade de expressão — e há uma polícia política que controla os cidadãos até na sua vida privada. Sob uma ditadura totalitária, não há oposição consentida e sambista cantando que amanhã vai ser outro dia.
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