“No Caminho Com Maiakóvski”, por Eduardo Alves da Costa

Eduardo Alves da Costa nasceu em Niterói, mas aos dois meses de idade mudou-se para São Paulo com seus pais. Organizou, em 1960, no Teatro de Arena, em São Paulo, as Noites de Poesia, em que eram divulgadas as obras de jovens poetas. Participou do movimento Os Novíssimos, da Massao Ohno, em 1962. Costa graduou-se no curso de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie em 1962, mas não chegou a exercer a profissão.

Trabalhou como redator nas agências de publicidade Proeme e Supar, foi copidesque nos jornais O Globo e Última Hora, editor de textos na Editora Abril, redator nas revistas Pop e Intervalo 2000, gerente de redação no Círculo do Livro.

Em 1982, após frequentar durante muitos anos o ateliê do pintor Mário Gruber, começou a se dedicar também à pintura. Fez duas residências artísticas, com ateliê, em Velletri, na Itália, em 2009, e em Montmartre, Paris, na França, em 2010.

“No caminho com Maiakóvski”
O poema mais popular do autor, “No caminho com Maiakóvski”, escrito na década de 1960, foi envolvido em uma série de equívocos quanto à atribuição de autoria.

Para alguns, o texto era do poeta russo Vladimir Maiakóvski. Para outros, o verdadeiro autor era o dramaturgo alemão Bertolt Brecht. Durante a campanha das Diretas Já, o poema virou símbolo na luta contra a ditadura, aparecendo em camisetas, pôsteres, cartões postais, sendo quase sempre associado ao poeta russo ou ao dramaturgo alemão. Com a introdução da internet no país, o equívoco massificou-se. De acordo com Costa, o engano surgiu na década de 1970, quando o psicanalista Roberto Freire incluiu em um de seus livros o poema, dando crédito ao escritor russo e citando Costa como tradutor. Entretanto, o autor do poema diz não se arrepender de ter utilizado o nome do autor russo no título.

No Caminho, com Maiakóvski
(Eduardo Alves da Costa)

Assim como a criança
humildemente afaga
a imagem do herói,
assim me aproximo de ti, Maiakóvski.
Não importa o que me possa acontecer
por andar ombro a ombro
com um poeta soviético.
Lendo teus versos,
aprendi a ter coragem.

Tu sabes,
conheces melhor do que eu
a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.
Nos dias que correm
a ninguém é dado
repousar a cabeça
alheia ao terror.
Os humildes baixam a cerviz;
e nós, que não temos pacto algum
com os senhores do mundo,
por temor nos calamos.
No silêncio de meu quarto
a ousadia me afogueia as faces
e eu fantasio um levante;
mas amanhã,
diante do juiz,
talvez meus lábios
calem a verdade
como um foco de germes
capaz de me destruir.

In: COSTA, Eduardo Alves da. No caminho, com Maiakóvski. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985. (Poesia brasileira).