Fabricação de supostos gênios desafia atuação dos críticos, por Dirce Waltrick do Amarante/Folha de São Paulo

 

 

Algo curioso parece estar acontecendo nestes últimos anos no Brasil: a proliferação de gênios na nossa cultura. Diria que nunca houve tantos autores extraordinários como agora na área da ficção, do ensaio e da tradução, por exemplo, e quase todos muito jovens!

Não é raro o leitor se deparar com adjetivos como “genial”, “fenomenal”, “brilhante” e “singular” em críticas, prefácios, textos de orelha… Livros com pouco mais de 200 páginas são vistos como estudos “completos e elucidativos” sobre um determinado assunto, o qual, aliás, já foi bastante esmiuçado por outros, em tomos volumosos.

Autores de um único livro são premiados e alcançam a notoriedade, quando não a admiração irrestrita, algo que muitos outros, com obra vasta, ainda não conquistaram. É claro que nenhum fã ou crítico sabe agora, no auge de seu entusiasmo, quantos desses autores festejados sobreviverão ao tempo.

Vale destacar, contudo, que a fábrica de genialidades não é nova. Em um ensaio de 1894 intitulado “Como tornar-se um gênio”, o dramaturgo irlandês George Bernard Shaw afirma que “os gênios não existem” e prossegue, com a ironia que lhe é peculiar: “Eu sou um gênio e portanto sei. O que há é uma conspiração para fazer de conta que os gênios existem e uma escolha das pessoas certas para assumir o papel imaginário de gênio. O difícil é ser o escolhido” (faz parte do livro “O Teatro das Ideias”, organizado por Daniel Piza).

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