Clássicos e artistas celebrados entram na mira de nova onda revisionista, por Amanda Capuano e Raquel Carneiro/Veja

 

 

Em um ensaio célebre sobre a arte moderna, o filósofo alemão Walter Benjamin (1892-1940) produziu uma das mais profundas reflexões sobre a relação entre os seres humanos e a história. Escrevendo a respeito de um desenho do suíço Paul Klee que mostra um anjo mirando o espectador com olhar desolado, Benjamin mostra que, embora o homem tente enxergar virtude e coerência no passado, é aquele olhar de assombro do anjo que melhor traduz nossa impotência diante da cacofonia dos fatos que moldam a história. Pode-se detectar o mal-estar de que fala o filósofo num debate que causa furor nos dias de hoje: o assombro de muitos ao verificar que autores de clássicos da literatura, pintores e outros ídolos do passado infelizmente mancharam suas obras essenciais com uma marca indecorosa — a propagação de ideias e preconceitos incompatíveis com a bússola moral da atualidade.

Racismo, machismo, xenofobia, homofobia, gordofobia: é cabeluda a lista de pecados de figuras que vão do pintor espanhol Pablo Picasso ao criador do agente James Bond, o escocês Ian Fleming. Encontrar nas grandes obras expressões e cenas ofensivas causa repulsa compreensível e um legítimo desejo de reparação — e é uma questão espinhosa para pais e professores preocupados com a formação das crianças. Mas o que fazer quando o passado assombra o presente: deve-se apagá-lo? É essa a saída radical proposta por um novo revisionismo cultural: reescrever o passado para que ele se adeque à consciência contemporânea.

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