PASSANDO PELO MURO DE BERLIM

Berlim, 1978. Depois de muitas fotos no “Berliner Mauer”, do lado ocidental, é claro, a próxima etapa de minha visita à antiga capital do III Reich era a de conhecer o lado oriental do Muro.

Eu nunca fiz confusão sobre Berlim – ocidental e oriental – por que os fatos relacionados com a construção do muro que separou a cidade (13/agosto/1961) sempre me fascinaram, mas a desinformação para muita gente sobre as Alemanhas separadas ainda persiste até hoje.

Vamos a uma pequena aulinha de Geografia.

O território alemão pós-guerra foi dividido pelos aliados. EUA, Inglaterra e França (Alemanha Ocidental) ficaram com 248.577km² e a URSS com 108.333km² (Alemanha Oriental). Bonn, como capital aliada e Berlim, capital comunista. No entanto, Berlim também foi dividida nas mesmas proporções, mas aí residia a confusão.

Para entendermos melhor: o lado ocidental, se fosse o RS, Porto Alegre seria Bonn. Santa Catarina seria o lado oriental e Florianópolis, Berlim, dividida em dois setores.

Portanto, Berlim estava encravada no setor soviético, cercada de território comunista e distante 596 kms de Bonn.

Volto para Berlim, preparo meu passaporte e rumo à divisa entre dois mundos muito distintos, onde, pelo lado dos Estados Unidos, estava o Checkpoint Charlie, na metade da Friedrischstrasse, uma longa avenida que percorrida a pé chegava-se ao lado oriental, depois de uma checagem de documentos pela polícia alemã comunista.

No posto policial oriental já era possível de se sentir a opressão. Paguei 50 marcos orientais, uma taxa para o ingresso, mas ganhei um sorriso da policial feminina quando viu meu passaporte. “Brasil, Pelé, Garrincha”, disse-me com muita cordialidade. Não carimbaram o passaporte, mas recebi uma pequena tira de papel, um vale de permanência para até às 17 horas, limite para o retorno. A partir dali, uma caminhada de mais ou menos 500 metros para chegar à Alexander Platz, uma praça com uma estátua de uma típica trabalhadora comunista, prédios velhos, alguns ainda em ruínas e os reconstruídos tinham o traço sinistro da arquitetura soviética.

Não havia nada colorido, nenhum outdoor, nenhum luminoso, assim como tudo ao redor. Caminhei pelas ruas do entorno e vi apenas duas lojas com vitrines iguais às que tinham em Viamão, nos anos 1950.

Tudo mais era cinzento e velho. Antes de sair – fiquei apenas quatro horas no “centro” de Berlim Oriental – entrei num café, numa esquina da praça e o ambiente era rigorosamente triste.

Nas quatro mesas ocupadas, pessoas conversavam quase sussurrando, mas recebi olhares curiosos de todas elas. Fiz o meu retorno pela mesma avenida trazendo na memória o que havia me convencido de uma vez por todas: o comunismo era monocromático.

O vermelho só existia na imaginação dos marxistas. A cor real, o cinza, ficava mais aterrorizante quando se avistava, na volta, as barreiras que impediam qualquer aproximação do Muro pelo lado oriental.

Quem tentava, era fuzilado.