O “CAPELÃO” DA ODEBRECHT

Frei Chico, irmão de Lula, e denunciado esta semana pela Força Tarefa da Lava Jato, sob acusação de “corrupção passiva continuada”, não é um frade católico e nunca recebeu qualquer voto de consagração religiosa.

O epiteto de “Frei Chico” foi-lhe dado numa reunião do Sindicato dos Metalúrgicos, nos anos 1960, pelo advogado da entidade, Maurício Soares, e, partir daí, José Ferreira da Silva, nunca mais foi chamado de Zé Gordo ou Zé Careca. O apelido ficou definitivo e sua fama aumentou quando Lula se elegeu presidente do Brasil, depois de ser levado à militância sindical pela mão do irmão, então já conhecido como Frei Chico.

Em 2002, após a vitória de Lula, Frei Chico, mesmo sem qualquer função oficial, manteve uma discreta ascendência sobre o irmão, uma relação óbvia que lhe trouxe benefícios pessoais. Segundo a Força Tarefa, Frei Chico recebeu de 2003 a 2015, um valor de R$ 1,1 milhão, parcelados em repasses de R$ 3 mil a R$ 5 mil, ao longo de 12 anos, entregues em espécie por executivos da Odebrecht. Frei Chico já mantinha relacionamento com a empresa desde os anos 1990 como interlocutor junto aos movimentos sindicais, por ter presidido o Sindicato dos Metalúrgicos de São Caetano do Sul.

Uma das empresas do Grupo Odebrecht pagava Frei Chico por consultoria sindical, em serviços efetivamente prestados. A partir da posse de Lula, Frei Chico entrou no esquema de corrupção da Odebrecht já sem o contrato de consultoria, mas recebendo a citada propina parcelada, passando a ser tratado pelo codinome de “Metralha”.

Lula foi incluído nessa nova denúncia com o irmão porque a Odebrecht obteve benefícios do governo federal como a tentativa de evitar o retorno da Petrobrás ao setor petroquímico, onde a Odebrecht atua por meio da Brasken.

Um e-mail de 2010 revela que Alexandrino de Alencar, o elo da Odebrecht com Lula, insistia em “manter o programa do irmão do chefe”. O resto da história o Brasil conhece. A direção da Odebrecht e o próprio Lula foram condenados pela Lava Jato, mas Frei Chico não foi preso como o irmão e os chefões da maior empreiteira do Brasil. Só agora o poder informal de Frei Chico no regime presidencial petista vem sendo desvendado na denúncia da Força Tarefa.

Sua atuação era discreta num mundo obscuro de propinas e de falsidades como o apelido religioso de frei de uma ordenação clerical que jamais lhe foi conferida.

Frei Chico era um disssimulado “capelão” da Odebrecht.