O TERRORISMO DA AÇÃO POPULAR

Quem tem menos de 50 anos talvez não tenha tomado conhecimento dos atos terroristas nos primeiros anos do Governo Militar (ou “ditadura militar”) e jamais teria ouvido falar no grupo Ação Popular (“Apê”, no jargão de quem militou a organização ou a combateu) que, na verdade, tinha uma sigla mais pomposa – APML (Ação Popular Marxista-Leninista) e promoveu um dos mais terríveis atentados terroristas, em Recife, no dia 25 de julho de 1966.

Foi numa polêmica desencadeada por Jair Bolsonaro, nesta segunda-feira, que o Brasil passou a se interessar pela “Apê” quando o presidente disse que o pai de Felipe Santa Cruz, atual dirigente máximo da OAB nacional, não era um “desaparecido”. Fernando Santa Cruz, militante da APML, teria sido eliminado pelos próprios companheiros e não pelos militares que combatiam o terrorismo à época, segundo Bolsonaro.

Não vou tratar do caso em particular, mas relembrar o que foi a “Apê”, autora do primeiro atentado com vítimas fatais naquele dia de terror, no Aeroporto de Guararapes, em 1966. O nome de Fernando Santa Cruz não aparece nos relatos desse atentado. Até 1998 não havia uma certeza sobre a ação e o nome do autor intelectual do atentado só foi revelado por um líder do PCRB (Partido Comunista Revolucionário Brasileiro), Jacob Gorender.

Em seu livro “Combate nas Trevas” (Editora Ática, 1998), Gorender refere-se ao caso ocorrido em Recife. “Membro da comissão militar e dirigente nacional da AP, Alípio de Freitas, encontrava-se no Recife, em meados de 1966, quando se anunciou a visita do general Costa e Silva, em campanha farsesca de candidato presidencial pelo partido governista ARENA. Por conta própria, Alípio decidiu promover uma aplicação realista dos ensinamentos sobre a técnica de atentados”.

Antes da publicação do livro, logo após a anistia de 1979, um dos fundadores da AP, Jair Ferreira de Sá (1941-1985), numa entrevista ao semanário “Em Tempo”, disse que Raimundo Gonçalves Figueiredo fora um dos participantes da ação. Em 2013, um documento da Marinha atribuiu a Raimundo a ação no aeroporto.

Até hoje há dúvidas sobre os detalhes do atentado já que a Comissão Estadual da Verdade e Memória Dom Helder Câmara (de Pernambuco) fez um relato unilateral do caso “passando anos-luz da verdade histórica, focando só um lado”, na opinião de Flávio Regis, filho do jornalista Edson Regis, uma da duas vítimas fatais do atentado de 1966. A outra vítima foi o almirante reformado Nelson Gomes Fernandes. A bomba estava numa maleta quando explodiu causando outras 14 vítimas. Foi o maior atentado terrorista durante o regime militar visando matar o general Costa e Silva.