RODRIGO MAIA X SÉRGIO MORO

O presidente da Câmara dos Deputados Rodrigo Maia pode não simpatizar com o ministro da Justiça Sérgio Moro, mas não deveria revelar publicamente a sua antipatia ao tratá-lo de “funcionário de Bolsonaro”, numa visível tentativa de diminui-lo hierarquicamente. “Ele conversa com o presidente e, se Bolsonaro quiser, conversa comigo”, disse Maia, talvez irritado porque Moro pediu urgência na tramitação do seu projeto anticrime.

Rodrigo Maia não gostou de ter recebido mensagens de Sérgio Moro pelo celular na madrugada de quarta-feira, conforme relato dele a deputados mais próximos tratando do tema. A discordância entre eles seria normal se Maia não tivesse baixado o nível da conversa, pois no entendimento de Sérgio Moro o pacote anticrime poderia tramitar em conjunto com a Reforma da Previdência, daí a cobrança do Ministro da Justiça para o Presidente da Câmara.

Rodrigo Maia enviou o projeto de Sérgio Moro para um grupo de trabalho que terá 90 dias para ajustar o texto do ministro a outros similares que tramitam na Câmara, como o de autoria de Alexandre de Moraes, do STF, mas Maia aproveitou para dizer que o projeto de Moro é “cópia e cola e sem novidades” do apresentado pelo ministro do STF.

O que Rodrigo Maia ganha com tal atitude, com uma agressividade verbal gratuita ao mais prestigiado ministro do governo Bolsonaro?

Estaria o presidente da Câmara com uma ponta de inveja de Sérgio Moro e aproveitando-se de sua condição atual para tentar equalizar uma hierarquia onde Moro não poderia lhe pedir pressa na tramitação de seu projeto?

Se Moro é “funcionário de Bolsonaro”, Maia é funcionário de todos os brasileiros, fato que já estabelece uma equiparação que não permite arroubos para se saber quem é mais importante em Brasília.

Após a declaração de Rodrigo Maia, o ministro Sérgio Moro respondeu com elegância e fidalguia. O pacote anticrime foi enviado à Câmara em nome do governo do presidente Jair Bolsonaro, não se trata de uma cópia nem de uma colagem de um projeto similar ao do ministro Alexandre de Moraes e é “um projeto de lei inovador e amplo contra o crime organizado, contra crimes violentos e corrupção, flagelos contra o povo brasileiro”.

Nesta quinta-feira a má vontade de Maia ganhou uma explicação. Ele deveria estar desconfiado sobre alguma operação da Polícia Federal para prender integrantes do governo passado, incluindo Michel Temer e seu sogro Moreira Franco. O que Sérgio Moro quer aprovar para aumentar o combate à corrupção, não deixava de estar em prática azucrinando a vida de pessoas próximas a Maia.

E se Rodrigo Maia tratou Sérgio Moro de maneira desrespeitosa antes dessa operação de quinta-feira, que não se espere uma mudança de atitude do presidente da Câmara. Agora mesmo é que ele vai para a desforra para impedir a aprovação do pacote anticrime. Rodrigo Maia provavelmente terá um fim de semana desagradável entre seus familiares, mas Sérgio Moro não será esquecido na hora do jantar.