MENSAGEM NÃO É CONVERSA

Mesmo que todos nós estejamos engolfados pelos dispositivos à disposição de quem tem um celular, mensagens não substituem conversas, especialmente estas que balizam a sinceridade humana pelo “olho no olho”.

Quando duas pessoas se comunicam por mensagens eletrônicas não há como enquadrá-las como conversas.

Uma conversa pressupõe interrupções e apartes, vozes dos interlocutores se alterando e até se sobrepondo uma a outra – o que não ocorreu entre Bolsonaro e Bebianno.

É importante refazer o “incidente verbal” por que Bebianno afirmou ter falado com o presidente três vezes a respeito de uma viagem de três ministros à Amazônia e também sobre candidaturas femininas do PFL que seriam “laranjas” para um desvio de recursos do Fundo Eleitoral.

O que houve, na verdade, foram trocas de mensagens pelo WhatsApp, algo bem diferente de o presidente receber um ministro para conversar em seu gabinete. Se o ex-ministro tivesse ligado para o presidente e mantido com ele um diálogo, ao vivo, cada um na ponta da linha, concordando, discordando e buscando saídas para um desentendimento normal no início de uma nova administração nacional, aí sim, teríamos uma verdadeira conversa republicana.

Portanto, não houve uma conversa entre Bolsonaro e Bebianno, mas mensagens de texto e de áudio que seriam confidenciais não fosse a deslealdade do ex-ministro divulgando-as na revista Veja e pegando o presidente desprevenido.

As mensagens trocadas traziam uma cobrança de Bolsonaro e para o presidente eram tão reservadas que fez críticas à Rede Globo classificando o grupo jornalístico como “inimigo dentro de casa”. Bebianno não respeitou essa regra básica de confiança entre ele e o presidente, dando divulgação ao que deveria ficar restrito a ambos. E foi assim que Gustavo Bebianno tomou conhecimento de que a porta da rua é a serventia do Palácio do Planalto.