O ESCÂNDALO DA “DER SPIEGEL”: PAREM AS MÁQUINAS. É TUDO MENTIRA, por Ana Carbajosa

Ninguém acreditou nele. Ele próprio tampouco imaginou que acabaria revelando um grande escândalo jornalístico que abalou os alicerces da imprensa alemã e que motiva um novo debate – o enésimo – sobre a profissão em todo o mundo. Mas hoje todos na Alemanha acreditam em Juan Moreno e o veem quase como um herói. Para desmascarar um profissional da mentira massificada, capaz de enganar um país inteiro, Moreno teve que viver um calvário.

Brigou para convencer seus chefes de que ele, o elo mais fraco da cadeia trabalhista, tinha razão, e que Claas Relotius, de 33 anos, estrela do jornalismo alemão, inventava as histórias que publicava. Não foi fácil, mas foi uma dessas raras ocasiões em que Davi acaba vencendo Golias. Moreno, um jornalista espanhol criado na Alemanha, apostou e ganhou.

Sua vitória é, entretanto, tremendamente agridoce. Seu sucesso é ao mesmo tempo a desgraça da Der Spiegel, a lendária publicação alemã para a qual Moreno colabora como freelancer. É difícil compreender como a prestigiosa revista foi capaz de levar ao topo um repórter que inventava pautas e dizia ter entrevistado gente que nunca viu e visitado lugares onde nunca pisou. Como ninguém – nem seus chefes, nem o departamento de checagem, nenhum colega – percebeu que mais de meia centena de reportagens assinadas por seu jornalista-estrela eram perfeitas demais para serem corretas; que, na verdade, eram uma fraude.

Moreno chega quase uma hora atrasado ao encontro no seu apartamento, na zona norte de Berlim. Acaba de prestar depoimento na comissão de inquérito interna da Der Spiegel. Sua mulher, também jornalista freelancer, está terminando uma matéria no laptop, sobre a mesa da cozinha. Três de suas quatro filhas entram e saem ao longo das três longas horas de conversa.

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