O DEBATE. QUAL DEBATE?

Para começar: a culpa não é da Band, mas da lei eleitoral que obriga emissoras realizadoras de debates a convidarem todos os candidatos cujos partidos tenham pelo menos cinco deputados federais. Então, com oito participantes como foi o caso do encontro da última quinta-feira, não houve debate, mas um convescote de candidatos que mal podiam expor suas ideias pela exiguidade de tempo.

Em países onde não existe uma legislação eleitoral enigmática como a nossa, os debates que antecedem as eleições são de responsabilidade das emissoras. Estas convidam quem tem possibilidade de governar, sem o patrulhamento de quem quer que seja. E há uma razão lógica e primária para isso: debate se faz com dois ou três convidados, no máximo, para que o tempo disponível seja aproveitado com o confronto de teses e não com regras rígidas que não facilitam o desenvolvimento do próprio programa jornalístico, mas, ao contrário, são regras castradoras e plenas de “não pode isso, não pode aquilo”.

Há quem diga que Ciro Gomes se saiu melhor pelo seu conhecimento de problemas nacionais e regionais. Mas como aferir se ele apenas tangenciou alguns, até mesmo pelo tempo que tinha? No entanto, disse algo que o governo não pode interferir. Prometeu ajuda a quem tem o nome no SPC. Houve também elogios a Geraldo Alckmin que lembrou apenas o mesmo candidato de 2006.

Álvaro Dias teve um desempenho muito parecido com a de Marina Silva, ou seja, já não empolgam mais um eleitorado ávido por propostas que ele possa compreender. Enquanto Marina está na sua segunda disputa com o mais do mesmo, Dias faz a sua estreia, mas traz o peso de ser senador de uma Casa que perdeu o crédito com os brasileiros.

Henrique Meirelles possui um bom currículo na área econômica, mas tinha duas tatuagens irremovíveis: ex-ministro de Lula e de Temer. E isso tem peso específico na hora do voto. Para os três restantes candidatos, Guilherme Boulos, Cabo Daciolo e Jair Bolsonaro sobraram opiniões que mais se aproximaram do que o povão queria ouvir. É importante destacar que é esse povão sem rosto que decide uma eleição. Boulos trouxe a contradição da esquerda, no velho discurso sobre os pobres, vítimas eternas dos ricos. Cabo Daciolo, uma cara nova na disputa presidencial, bombeiro militar de profissão, falou tanto em Jesus Cristo que parecia tê-lo como cabo eleitoral. Jair Bolsonaro voltou a tratar de um tema preocupante: a insegurança pública. E como líder das pesquisas eleitorais marcou presença no encontro, mas se conteve nas provocações contra a sua pessoa. Quem sabe no segundo turno os brasileiros possam tirar algum proveito dos presidenciáveis que forem para lá?