Tática para ‘fritura’ de ministros expõe rede de intrigas no governo Lula, por Marcela Mattos/Veja
O presidente Lula gosta de estimular a competição entre seus ministros. É uma prática antiga, iniciada já em seu primeiro mandato, em 2003. Além de forçar os auxiliares a perseguirem desempenhos cada vez melhores, sob pena de perderem prestígio junto ao chefe, essa estratégia serve para reafirmar a autoridade do petista: quando eventuais rusgas se tornam conflitos dentro do governo, Lula assume o papel de árbitro, põe ordem na casa e mostra — como se necessário fosse — quem é que manda. Os efeitos colaterais são conhecidos e, entre eles, destacam-se o fogo amigo, a rede de intrigas na Esplanada dos Ministérios e as conspirações destinadas a fragilizar e até mesmo derrubar assessores, dos mais poderosos àqueles que comandam pastas de menor expressão. Essas disputas internas, frequentes desde sempre, ganharam tração nas últimas semanas com a decisão do presidente de abrir espaços em sua administração para partidos do chamado Centrão, especialmente o PP e o Republicanos, que até o ano passado estavam aliados a Jair Bolsonaro. As negociações ainda estão em curso, mas levaram à frigideira uma nova leva de ministros, que temem perder seus respectivos postos em nome da governabilidade.
Desde o início de seu terceiro mandato, Lula sabia que, para organizar uma base parlamentar forte na Câmara, precisaria compor com legendas de centro, já que as siglas de esquerda são minoria na Casa. Ao montar sua equipe, o presidente deu três pastas para o MDB, três para o União Brasil e três para o PSD e, assim, acreditou que resolveria o problema. Não deu certo. Sob a influência do comandante da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), o Centrão mostrou que projetos prioritários só avançam com os seus votos e, como nunca soube viver na oposição, pediu para participar da base de Lula e apresentou sua fatura: um pedaço do ministério. O sonho de consumo do grupo era a Pasta da Saúde, chefiada por Nísia Trindade. O pleito ficou sem resposta até que o presidente declarou publicamente que Nísia não era “trocável”. Ou seja, não seria substituída. Como alternativa, líderes do Centrão passaram a divulgar outras prioridades, igualmente ambiciosas, como o Ministério do Desenvolvimento Social, que toca o Bolsa Família e os principais programas sociais do governo. Na lista de reivindicações também constam ou constaram o Ministério do Esporte, a presidência da Caixa e o controle da Fundação Nacional de Saúde (Funasa).
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