A validade da atração de investimentos, por Gilberto Mosmann
Alegra-me que o Governo atual envolveu-se diretamente nas negociações para viabilizar uma solução para a endividada Languirú. O estamento público tem essa missão, de aproximar interesses, entre quem quer investir e as oportunidades que existem em nosso Estado. Pois, quando a General Motors de Gravataí anuncia a chegada à montagem de quatro milhões e meio de automóveis, vem-me a lembrança a forma como se deu a chegada dessa mega empresa no RS. Dois fatos antecedentes: um estudo da FIERGS, coordenado pelo bem lembrado economista Nuno Figueiredo Pinto, na gestão de Dagoberto Lima Godoy, demonstrando as condições infra-estruturais para aqui ser sediada uma montadora automotiva.
Dados sobre as condições gerais, as energéticas, da entrante fibra ótica e de outros tantos itens, além da diversificada indústria de auto-peças e a qualificação de nossos profissionais, formados pela rede SENAI, outros cursos técnicos e universidades, tudo isso constava detalhadamente no volumoso estudo da entidade industrial. O outro fato foi de que o então Presidente da República Fernando Henrique Cardoso chamou a atenção de seu amigo, o Governador gaúcho Antônio Britto Filho, de que haveria no mundo um novo movimento de realocação e instalação de montadoras de veículos. Britto tinha isso em seu plano de Governo e saiu prontamente a campo. Houve uma primeira reunião, em São Paulo, à qual não pude ir por ter uma incontornável delegação de Britto para representa-lo num grande evento, e da qual participaram, pelo Governo, o grande amigo que já partir Nelson Proença e o atilado técnico Ricardo Hingel. Pela GM do Brasil, o também falecido André Beer. E adentrou na sala a figura de Luiz Moan. Quando Nelson e Luiz se enxergaram abraçaram-se efusivamente. Tinham sido colegas na IBM. Isso daria facilidade às conversas. E aí se partiu para oito meses de negociações, totalmente reservadas, sempre na sede da GMB. Boas algumas reuniões, outras pesadas. Sobre a mesa, em todas as reuniões, o trabalho da FIERGS, com muitos marcadores post-it. As sabatinas eram muito detalhadas a nós, Nelson, Hingel, o secretário César Busatto, o competente Ricardo Englert, e eu.
Em várias reuniões, participaram o superintendente do porto de Rio Grande e o Secretário de Transportes Guilherme Socias Vilela. Coube-me propor ao Governador que a coordenação das negociações ficasse com Nelson, dado sua relação com Moan. Seria razoável que, como Secretário de Desenvolvimento, eu ficasse com essa missão. Nada disso. A eficiência mandava propor Proença, que houve-se extraordinariamente bem. Acusaram-nos depois que cedemos muito, em incentivos. Isso já se pagou em múltiplos, pelos tributos e empregos gerados. A batida de martelo foi no apartamento do Nelson, quando veio a Porto Alegre o então presidente da GMB, Mark Hogan, há bem pouco falecido, mais Britto, Proença, Busatto e nós. O anúncio foi no Palácio do Planalto, também presente o secretário Mendes Ribeiro Filho, outro que já nos deixou. Alguns pontos destacados pela GM: a qualificação profissional dos gaúchos, o baixo absenteísmo, o sindicalismo laboral de forte característica negocial – o presidente, na base Gravataí, era o alcunhado Quebra Molas, de fácil acesso; a rede de fornecedores – empresa portoalegrense de expressão, à época, foi contratada para o preparo de chapas metálicas básicas; muitos fornecedores de peças passaram a atender os sistemistas, que se instalaram junto à montadora, para produzir conjuntos completos para os automóveis. E um fato que agora revelo: convidado a visitar a pista de provas da GM em São Paulo, estenderam-se o convite para ver o protótipo do carro que aqui seria montado. Depois se soube que era o Celta. Declinei de conhecer o protótipo em tamanho natural, pelo simples fato de que se vazasse alguma dica antes do tempo eu estaria na pequenina lista dos que teriam visto o carro. Fiquei confortável com essa decisão. Enfim, Britto teve visão e o time de negociação operou afinadamente. Quanto à Ford, é outra estória, um dramalhão.
Acabei migrando para uma nova Secretaria, a Especial para o Complexo Automotivo de Gravataí, onde comparecia todas as semanas, pois minha equipe trabalhava num andar do prédio do DAER, na Capital. Por fim, foi o ano que mais choveu, mais que a média da cidade mais chuvosa dos EUA, Seattle. Com isso, Britto não inaugurou a planta, mas seu sucessor. Continuidade é isso. Atraindo, estimulando o que já existe aqui. Para crescer.
Gilberto Mosmann
Ex-Secretário de Estado do RS
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