Bere & Ballare, a única boate realmente VIP de Porto Alegre, por Marcello Campos/Jornal do Comércio

 

 

Em meio aos incontáveis atrativos da boemia elegante na Porto Alegre de 1987 a 1993, um pequeno retângulo de acrílico branco com 8,6cm por 5,4cm foi objeto de desejo: o cartão vip da boate Bere & Ballare. Difícil encontrar nas altas rodas de madrugadores quem não estivesse a fim de se esbaldar no hoje extinto número 828 da avenida Independência. Porém, nada feito sem o passaporte – salvo se convidado por um de seus quase 1.500 portadores.

Outras casas do gênero ofereciam esse tipo de passe, em um esquema que se resumia a vantagens como descontos especiais, isenção de consumação mínima ou a gentileza de não mofar em filas. Mas o empreendimento fundado por Dirceu Russi em sociedade com a esposa Elaine Pohlmann e José Augusto Faillace Krause foi o único a levar ao pé-da-letra a ideia de clube privê, do primeiro ao último dia. Claro que essa história não se resume a um pedaço de plástico.

Com um currículo de estabelecimentos icônicos como Bar do IAB (1981-1991) e Bogart (1986-1990), Dirceu vislumbrou potencial para um terceiro negócio ao saber que o pioneiro Carlos Heitor Azevedo, cansado de guerra, havia colocado um ponto final na boate Gilda Single Club, instalada no mesmo imóvel onde fizera história ao longo de quase três décadas com as antecessoras Baiúca, Vila Velha, Milho Verde e Casablanca. Ali estava uma baita oportunidade.

“Mesmo descaracterizada, a planta agradou ao arquiteto Antônio Carlos Castro”, conta Dirceu Russi, 77 anos. “Definimos um conceito ‘despojado chique’ e o projeto foi criado em poucas horas. O mesmo não ocorreu com o nome, até que, na manhã seguinte a uma das reuniões criativas com participação do jornalista José Antônio Pinheiro Machado, acordei com os verbos ‘bevere’ e ‘balare’ [beber e dançar], adaptados para Bere & Ballare, após consulta linguística ao Consulado da Itália.”

Mãos à obra, a área interna de 200 metros quadrados passou a integrar três ambientes: hall para caixa e chapelaria, bar com balcão em “U” e pista de dança em formato triangular, ladeada em desnível por 11 mesas. Na maior elegância, a rusticidade das paredes de tijolos à vista e piso em madeira contracenava com bancadas de mármore, ornamentos em gesso, spots a equilibrar luz e penumbra, quadros com reproduções de instrumentos musicais e até uma lareira de prontidão.

Leia mais no Jornal do Comércio