NOSTALGIA

Há quem defenda que a Porto Alegre “de antigamente” era muito melhor que a atual, mas a questão é discutível por uma única razão: o tema sempre é trazido à discussão pelos nostálgicos, por aqueles que sabem que os “bons tempos” são exatamente aqueles que não voltam mais.

O leitor não verá, por exemplo, um jovem de 20 e poucos anos ter lembranças das lojas sofisticadas da Rua da Praia ou dos cinemas com mil cadeiras – os do centro de Porto Alegre ou os dos bairros. Para ele é inimaginável um cinema como Castelo, dizem (nunca contamos) que com 1.200 lugares, localizado ali na Rua da Azenha, bem defronte à 2ª DP. Cinema para alguém com 20 anos só pode estar em algum shopping, jamais num fim de linha de bonde (o que é isso?) e muito menos, isoladamente, na Rua da Praia ou adjacências.

O mesmo vale para a hora do lanche, em algum point da moda. Hoje, fora do circuito dos shoppings, só a Padre Chagas está com tudo. Tente explicar e contar sobre as gostosuras da Confeitaria Rocco, da Casa Touro, do pãozinho com pernil do Matheus, do Rib’s, do Rian, das torradas do Joe’s, da banana split das Americanas ou do “Tremendão” do Alaska? Melhor nem falar no Restaurante Treviso, já que no Mercado Público, daquele tempo, resistem ainda o charmoso Gambrinus e o velho Naval de guerra.

Claro que a Padaria Pão de Açúcar, também no MP, continua sendo apenas uma excelente padaria, enfrentando o avanço inexorável do marketing da nova nomenclatura de “panificadora”, “oficina do pão”, “cia. do trigo” ou simplesmente “delicious breads”.

Mas para evitar uma gargalhada do jovem, jamais recorde os cabarés da velha Porto Alegre que os mais antigos – aportuguesando o termo clássico francês – diziam randevú (rendez-vous), com acento no “u”. Mesmo assim, dá para contar as lendas dos inexistentes cabarés das estudantes e das mulheres casadas, ambos só funcionando à tarde e na nossa imaginação.

Não custa citar Carlos Lacerda (o conheci na antiga sucursal do Estadão, apresentado pelo jornalista e livreiro Mario de Almeida Lima) que me perguntou a diferença entre futebol e prostituição? No futebol, disse, o profissionalismo matou o amadorismo. Na prostituição, deu-se o contrário. Nós, daquela época, “ficávamos” nos quartos de fundo da Dorinha, da Emília ou do Ma Griffe. Hoje, a garotada “fica” em casa mesmo. E os adultos também. Até os motéis já eram. Antes, porque não existiam. Agora, porque existem os assaltos.

Para encerrar: lembram quando havia intervalo nas sessões de cinema e entrava alguém oferecendo “baleiro, balas?”