O DILEMA DE LEITE

Depois do encontro do governador Eduardo Leite com jornalistas na última quinta-feira restou a certeza de uma trágica aritmética (Aurélio: “Aritmética – parte da matemática em que se investigam as propriedades elementares dos números inteiros e racionais”) orçamentária insolúvel para todos os gaúchos, caso não seja aprovada pela Assembleia Legislativa a proposta batizada pelo Palácio Piratini de Reforma RS.

A complexidade da Administração Financeira e Orçamentária (AFO) do RS, quase incompreensível para o cidadão comum, que paga essa conta, poderia ser resumida, didaticamente, numa aritmética elementar: o Estado gasta mais do que arrecada e quando aumenta esta distância, entre receita e despesa, a crise política pede passagem.

Na iniciativa privada é diferente: vão para o beleléu a carrocinha de cachorro-quente e também a mais sofisticada organização empresarial.

De nada vai adiantar a intrincada e enigmática AFO, se a humilde aritmética do “mais-com-menos-e-menos-commais” não fechar no fim do mês ou no fim do ano.

Um dia “quebra” a carrocinha, porque vai faltar salsicha e, no outro, a modernérrima empresa, porque perdeu mercado e gastou demais com jatinhos e cartões corporativos.

É a lei da selva, que devora maus gestores num mundo cada vez mais competitivo. No universo do serviço público, ao contrário do privado (do cachorro-quente ao notebook), o Estado não “quebra”, porque quem “quebra” somos todos nós, pela falta da eficiência nos serviços básicos – uma obrigação constitucional para quem quer viver numa sociedade civilizada.

Diferentemente de sair do mercado, como acontece na iniciativa privada, cada qual arcando com seus prejuízos, o Estado tem mecanismos democráticos que podem transformar o seu dilema de gestão numa recuperação, lenta e gradual, de suas finanças, desde que o diagnóstico seja perfeito como uma ecografia nas mãos de um especialista. No caso das finanças gaúchas, nada pode ser mais cristalino do que a folha dos servidores públicos.

O Rio Grande do Sul vai gastar neste ano de 2019, 82% de sua receita líquida com pessoal e a previsão para 2020 é assustadora. Há uma previsão de receitas efetivas na ordem de R$ 44,9 bilhões e gastos de R$ 50,1 bilhões, logo, um déficit de R$ 5,2 bilhões.

Só os deputados estaduais podem estancar essa hemorragia financeira, conforme a proposta de Eduardo Leite, rigorosamente bem elaborada por técnicos do governo, e já nas mãos de nossos representantes na Assembleia.

Não há plano B para quem está na UTI esperando por um transplante. Os deputados serão os cirurgiões desta complexa operação.

O bisturi está com eles.