ABOBADOS DA ENCHENTE

Houve um tempo onde o politicamente correto não tornava nossas relações sociais e formais numa hipocrisia constante.

É de lá, mais precisamente de 1941, que surgiu a expressão “abobado da enchente”, criada pela cheia do Rio Guaíba que avançou sobre o centro de Porto Alegre deixando 70 mil pessoas flageladas, nos meses de abril e maio.

Quando os palavrões – estes que hoje estão na boca de qualquer criança que digite um celular e nas novelas da Globo – ainda estavam restritos a grupos fechados, chamar alguém de “abobado da enchente” podia resultar em briga, mas eram os jovens da época que mais utilizavam a “ofensa” quando se desentendiam.

Dizem as pesquisas que um surto de leptospirose fez a população da Capital entrar em pânico e a boataria se encarregou de divulgar os sintomas da doença – febre alta, calafrios, urina turva e nos casos mais graves uma hemorragia em alguns órgãos do corpo que acabavam em óbito.

Quem vacilava ou se mostrava distraído numa discussão corria o risco de ser um “abobado da enchente”.

Pois não é que a enchente eleitoral do último domingo com a vitória de Jair Bolsonaro está trazendo de volta não os velhos abobados, mas uma esquerda que ficou abobalhada com o resultado das urnas.

O homem sequer assumiu a Presidência já se fala em “resistência” a Bolsonaro e quantos dias faltam para a divulgação do “espirocado” (outro termo surgido na enchente de 1941) bordão “Fora Bolsonaro”? Quando Dilma venceu Aécio, em 2014, o senador mineiro queria verificação das urnas – coisa de “abobado” perdedor – e muito apropriadamente os dilmistas logo classificaram o gesto de tentativa de um terceiro turno.

Fica evidente que o mesmo vale agora para os derrotados – inapelavelmente derrotados – que não arriscam suspeitar das urnas, mas já está pronta e plasmada uma “resistência” que por falta de argumentos é tão somente mais uma bobagem a ser cultivada até 2022 se o cansaço não se encarregar de transformá-la num episódio semelhante à pantomima do “Lula livre” em frente ao presídio de Curitiba.

Quantos “resistentes” ainda dão “Bom Dia, presidente Lula” ao mais “ilustre” presidiário da capital paranaense?

A propósito: não seria a tal “resistência” uma manifestação fascista contra a Democracia? Os fascistas não gostam de eleições que não sejam vencidas por eles.

Aécio flertou com o neofascismo ao duvidar das urnas em 2014. E aqueles alunos de camisetas pretas nesta semana em algumas escolas de Porto Alegre? Recomendo buscar no “tio” Google “camisas negras” e já vai aparecer na tela “camisas negras simbolizam uma das características do fascismo”.

Estariam abobalhados pela enchente eleitoral de domingo passado?