ROGER WATERS QUERIA O QUÊ?

O ex-líder do Pink Floyd levou uma retumbante vaia em São Paulo quando a sua produção projetou sobre o palco um bordão contra Bolsonaro. Não vale dizer que Waters não sabia que a politização de seu show o pegou de surpresa. Talvez o que tenha surpreendido o astro foi a reação da plateia e a má fé dos organizadores do show que lhe passaram informações erradas sobre a atual situação política do Brasil.

Em dezembro do ano passado, Walters esteve no Brasil para divulgar o seu show com bastante antecedência e foi logo dizendo que não é de fugir de brigas, tanto que não deu muitos detalhes do que iria apresentar, mas insistiu em explicar as inspirações políticas de seu trabalho como defensor dos direitos humanos pelo mundo. Como a maioria dos artistas, Waters acredita que a classe por ser muito sensível e inspirada tem o monopólio dos direitos humanos.

Algo assim como “nós sabemos quem sofre no mundo e todos os sofredores são vítimas do fascismo”. Não pode haver maior hipocrisia dessa tal classe artística quando se põe a defender e monopolizar a “cultura do oprimido” em busca de culpados, como se a virtude da luta estivesse com ela. No Brasil esse pensamento tem um puxadinho na “cultura da periferia” que se choca frontalmente com o dia a dia dos despossuídos. Mas aí só dá confusão mental, talvez pelo excesso de água mineral sem gás quando essa gente resolve criar.

Quem mora na periferia, nos lugares mais tristes da condição humana, não quer saber quem é fascista ou progressista ou de quem é a culpa de sua miséria, quer tão somente escolas, segurança, saúde pública e transporte coletivo decente para seus filhos não serem herdeiros daquela sina. Waters se diz ateu, “ateísta radical”, mas usa o cristianismo para ser um revoltado com as injustiças do planeta. Na periferia não há ateus, mas, ao contrário, há a esperança de uma mudança e de melhores dias através da fé cristã, ou ainda restam dúvidas de que o cristianismo se confunde com o nosso modo de vida, a chamada civilização ocidental, com raízes greco-romanas e aperfeiçoada pelos fundamentos éticos pregados por Cristo?

Não sei o que pensa Waters a respeito, mas ele vai continuar sendo vaiado se insistir em seus próximos shows em trazer para o palco ataques a Bolsonaro e querendo fazer média com a plateia que quer apenas aplaudir o ex-Pink Floyd e não um comício ilustrado por efeitos de raio laser. As vaias recebidas por Waters não foram para suas canções – 45 mil pessoas estavam no show para ouvi-las e curti-las – foram para um Waters que se “especializou” em poucos dias em política brasileira. Mas Waters não está sozinho na “nobre” missão de “denunciar o fascismo e a agressão dos direitos humanos”. Artistas costumam pular a cerca que baliza um show de uma manifestação politico-partidária e aí se arriscam a trocar o carinho da plateia com o protesto dela.

Roger Waters queria o quê?