“DE JAIR PARA JAIR”

Sabem desde quando Jair Soares estava “incomodado” com o seu partido, o PP? Desde que a senadora Ana Amélia Lemos deu o seu apoio explícito para Manuela D’Ávila quando a comunista concorreu à Prefeitura de Porto Alegre, em 2012. Os progressistas de raiz (leia-se dos tempos da Arena) não aceitaram o comportamento de sua senadora. De lá até agora, Jair Soares afastou-se discretamente do partido, sem, no entanto, deixar de fazer política através de seus contatos no Estado e Brasília.

Não há nenhum erro de avaliação quando se afirma que Jair Soares é uma das maiores lideranças do PP em atividade e sempre que é consultado, sua palavra tem peso pelo prestígio e pelo conhecimento da política gaúcha e de seus meandros, por mais tortuosos e flexíveis que possam ser.

Vamos aos fatos atuais. Tudo estava conectado para um apoio do PP ao candidato Jair Bolsonaro, com o lançamento do deputado federal Luiz Carlos Heinze ao Palácio Piratini, ponteando uma chapa pura ou com algumas coligações. Para essa campanha, o acervo dos progressistas ainda é o mais azeitado e bem estruturado no RS. O Partido Progressista tem 144 prefeitos, 109 vice-prefeitos e 1.139 vereadores, sete deputados estaduais e cinco deputados federais. O PP está organizado nos 496 municípios gaúchos, mas mesmo assim, ainda estava titubeante para uma disputa direta. Uma insegurança jamais compreendida por seus eleitores.

Por essas injunções políticas que o eleitorado pepista não entende, o nome de Luiz Carlos Heinze foi deslocado para concorrer ao Senado, numa coligação que abraçou o nome do ex-prefeito de Pelotas Eduardo Leite como candidato ao Piratini e Geraldo Alckmin para o Planalto, abandonando a candidatura de Jair Bolsonaro, e foi aí que a paciência de Jair Soares foi para o espaço.

O encontro com Jair Bolsonaro, alinhavado pelo deputado federal Onix Lorenzoni (DEM), era o que faltava para quebrar o silêncio represado do ex-governador que abriu o seu apoio para o seu xará. Mesmo sem um palanque gaúcho, isto é, aquela formalidade partidária com coligações e recepções oficiais nas visitas aos municípios, Bolsonaro tem uma base eleitoral informal que vai se revelar nas urnas e com o trabalho dos prefeitos, vereadores e deputados em cada recanto deste Estado. E mais: nem mesmo a coligação para o Piratini será homogênea, pois haverá uma chapa “fantasma” com a dobradinha Sartori-Bolsonaro. O eleitor nunca perdoou acertos de cúpulas partidárias.

(Coluna originalmente publicada no jornal CORREIO DO POVO, de 01/02 de Setembro)